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Família Dominicana

Comentário às Leituras Dominicais (Jan. 2026) por fr. José Nunes, op

Comentário às Leituras Dominicais (Jan. 2026)      por fr. José Nunes, op - ISTA - Instituto S. Tomás de Aquino

 
4 DE JANEIRO - EPIFANIA - ANO A

 

Desde sempre, e logo pela Criação do universo e do mundo, Deus foi-se revelando, foi-se mostrando, foi-se dando a conhecer. E deu-se a conhecer como amigo de toda a criação, em particular do ser humano, e amigo da vida e do paraíso para todos.

A verdade é que nós, seres humanos, esquecemo-nos muitas vezes da nossa origem, das dádivas maravilhosas que nos foram feitas, e estragamos a nossa vida e a dos outros. Afastamo-nos de Deus, prescindimos levianamente das suas sábias orientações para sermos felizes.

Mas o Deus bíblico, da Antiga Aliança e de Jesus, não nos abandonou nem nos deixou órfãos. Continuamente veio ao nosso encontro para se dar a conhecer e revelar o verdadeiro sentido da vida. E é isso que significa a palavra grega ‘epifania’: revelação, amostragem, dar-se a ver e conhecer!

A carta de S.Paulo aos Efésios, na segunda leitura de hoje, diz que durante séculos Deus se mostrou de modo indirecto, implícito, e agora, em Jesus Cristo, mostrou-se total e definitivamente. A carta aos Hebreus, logo no começo, também lembra a mesma coisa: «Deus falou muitas vezes e de muitos modos, antigamente, a nossos pais, pelos profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por seu Filho». E a carta aos Colossenses (Col.1,25-28) afirma algo de parecido: o mistério de Deus escondido durante séculos foi agora revelado (com Jesus), isto é, fez-se epifania!

Todas estas passagens bíblicas, ao referirem-se à definitiva revelação de Deus aos homens, afirmam sempre, também, que essa epifania é agora universal: já não apenas a um povo (Israel), como no Antigo Testamento, mas para todos os povos da terra. A leitura de Isaías refere, de facto, que a Jerusalém poderão acorrer todos os povos, do Norte e do Sul, do oriente e do Ocidente, e para todos brilhará uma luz! Luz que é simbolizada pela estrela que os Magos (vindos de longe e também eles representado toda a humanidade) viram e seguiram, Luz que afinal é Jesus e se dá a conhecer a todos os seres humanos e por todos pode ser conhecido, amado, seguido e adorado!

E se Jesus veio ao mundo para a todos dar a conhecer e realizar a salvação de Deus, cabe agora à Igreja – Corpo de Cristo, Povo de Deus e Templo do espírito Santo – realizar essa imensa e maravilhosa missão de dar a conhecer Jesus e o seu Evangelho a todo o mundo. Eis por que a Epifania é uma festa verdadeiramente missionária.

29/12/2025 observações (0)

Artigo do fr. Bento Domingues, op

Artigo do fr. Bento Domingues, op - ISTA - Instituto S. Tomás de Aquino


 UMA NOVA MARIOLOGIA

  

1. Fomos surpreendidos com um debate expresso no documento do Dicastério para a Doutrina da Fé, Mater Populi fidelis.

Pensávamos que, depois do Vaticano II e de todos os esforços ecuménicos para vencer os obstáculos que se levantavam sobre a mariologia, ao longo da história da Igreja, estavam superados. No entanto, o documento Mater Populi fidelis viu-se na obrigação de travar um debate que me parece já sem sentido[1].

A minha proposta é o reencontro com a figura de Maria, mãe de Jesus, abordada sob o ponto de vista da mensagem do Novo Testamento (NT), que fala de teologia, Deus-connosco, não de biologia.

Nasciam, assim, as Cristologias Narrativas. A primeira, a de S. Marcos, começa por apresentar Jesus adulto a receber o baptismo de João. A partir daí, passou a pregar o Evangelho de Deus: O tempo está pronto e o Reino de Deus está próximo. Mudai de mentalidade e acreditai no Evangelho.

Marcos começa pelo fundamental. Mas a curiosidade não está satisfeita. Este Jesus nasceu adulto? Mateus e Lucas escreveram aquilo a que se chama, impropriamente e de modo diverso, os Evangelhos da Infância. Apresentam a alegria do nascimento de Jesus e de João Baptista. Aí, começam também as confusões.

Ao não se ter em conta que são admiráveis narrativas teológicas, desliza-se para uma biologia de conveniência que acaba por ocultar o essencial. Continua-se a discutir a forma como Jesus foi concebido e como nasceu. Não faltaram as declarações mais absurdas: Nossa Senhora, virgem antes, durante e depois do parto. Jesus passou por Maria como o sol pela vidraça.

Ao evitar a reflexão sobre os textos, sobre o seu tecido simbólico e sobre os seus jogos de linguagem, recorre-se a algo muito certo – a Deus nada é impossível –, mas resvala-se para concepções pseudo-milagrosas que deixam mal o Espírito Santo, Maria de Nazaré, Jesus e S. José. Perdeu-se a beleza e a verdade dessas espantosas narrativas. Quando se procede assim, pode-se perguntar: então porque é que não se ficou apenas com o Evangelho de S. Marcos?

Os textos do NT interpretam o sentido cristão do Antigo: Jesus Cristo realiza, corrige e supera as esperanças não só de Israel, mas de toda a humanidade. O movimento cristão é um movimento de saída universalista. Está na sua lógica derrubar os muros criados entre povos e religiões. Jesus Cristo é, na sua própria pessoa, a reconciliação. Como dirão os textos: Ele é a nossa paz[2].

Estas declarações interpretam o sentido da prática histórica de Jesus de Nazaré. O que se nota nas narrativas da sua vida adulta não é fruto do acaso. É fruto de um desígnio de Deus. O seu agir espantoso não era uma sucessão de milagres. Era Deus no tecido de uma vida humana, igual a nós excepto na maldade. Nasce humano e foi crescendo em idade, sabedoria e graça, perante o espanto de Maria[3]. O Emmanuel não é só Deus connosco, é um de nós.

Não nasce só de Israel e para Israel. Nasce de toda a humanidade e para toda a humanidade, como mostra a genealogia de Lucas: filho de Adão, filho de Deus[4].

As narrativas do NT nasceram para continuar a prática de Jesus na vida das pessoas e das comunidades, como aconteceu há 2 mil anos. Às vezes caímos na tentação de pensar que basta uma nova linguagem da Fé para os dias de hoje. São indispensáveis narrativas que contem as histórias de vida do encontro do Evangelho da Alegria com as situações actuais da nossa humanidade. É isto que Edward Schillebeeckx chama correlação crítica. Se não exprimirem esse encontro real, só podem produzir reportagens de literatura barata.

2. Existe um desentendimento entre Jesus e a sua família que vai ao ponto de julgarem que Ele enlouqueceu[5]. No mesmo capítulo de S. Marcos, é dito que andava a formar família com quem não era da própria família. Segundo a narrativa, de repente, chegam a sua mãe e os seus irmãos que o mandam chamar.   

Da multidão que estava sentada à sua volta, disseram-lhe: Estão lá fora a tua mãe e os teus irmãos que te procuram.    Jesus respondeu: Quem é a minha mãe e os meus irmãos?    Percorrendo com o olhar os que estavam sentados à sua volta, disse: A minha mãe e os meus irmãos são estes.    Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe[6].

O Evangelho de S. João afirma algo espantoso: Nem mesmo os seus irmãos acreditavam nele e gozavam-no pelas suas excentricidades e o gosto de dar nas vistas[7].

Este Evangelho começa com os milagres nas Bodas de Caná. Aquilo de que mais se fala é a mudança da água em vinho bom. No entanto, este sinal está situado num contexto que envolve todos os convidados. A mãe de Jesus é a primeira a ser nomeada. A seguir vem nomeado o próprio Jesus e, depois, surgem os discípulos. A mãe desempenha um papel admirável: como acudir a uma situação desagradável, num casamento em que falta o vinho? Naquela cultura, não celebravam um casamento com chá. Ela pressentia, no seu filho, capacidade de alterar a situação, mas parecia que ele não estava para aí virado. Pelo sim, pelo não, aconselha os serventes a fazer o que Jesus lhes dissesse. E aconteceu o milagre.

Qual foi o outro milagre? Jesus não é o menino de sua mãe e acontece uma alteração nos lugares dos que foram convidados (Maria, Jesus, discípulos). No final, surge Jesus em primeiro lugar, a sua mãe e, depois, os discípulos.

A partir daí, no Evangelho de João, a mãe de Jesus nunca mais é nomeada até ao momento que vê o seu filho crucificado. Ela tinha aprendido a seguir o caminho de Jesus. Junto da Cruz, já não é apenas uma discípula, mas alguém que pode cuidar dos discípulos: é na escola de Maria quem se aprende a ser discípulo de Jesus.

Aqui está a nova Mariologia: Maria de Nazaré, de mãe passou a ser discípula do seu filho. Do papel de Maria na família natural passa a ser mãe da nova família que Jesus inaugurou, como diria o Papa Francisco, mãe de todos os irmãos, Fratelii Tutti.

3. O importante não são as festas do Natal como simples festa comercial, mas a transformação da vida numa festa para todos. Como disse o Papa Francisco, A luz de Natal és tu quando, com uma vida de bondade, paciência, alegria e generosidade, consegues ser luz a iluminar o teu caminho e o caminho dos outros.

Bom Ano 2026!

   

Fr. Bento Domingues in Público, 28/12/2025
 
 
_____________
[1] No caso de Maria, esta mediação realiza-se de forma maternal, tal como fez em Caná e como se confirmou na Cruz. Assim explicava o Papa Francisco: «Ela é Mãe. E este é o título que ela recebeu de Jesus, ali mesmo, no momento da Cruz (cf. Jo 19, 26-27). Os teus filhos, tu és mãe. [...] Recebeu o dom de ser sua Mãe e o dever de nos acompanhar como Mãe, de ser nossa Mãe», Mater Populi fidelis, 34
[2] Ef 2, 14 ss
[3] Lc 2, 41-52; S. Mateus apresenta a origem de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão, ainda num clima nacionalista
[4] Lc 3, 23-38; comparar com Mt 1, 1-17
[5] Mc 3, 20-21
[6] Mc 3, 31-35
[7] Jo 7, 1-5
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